“Os Portishead estão de volta com um novo e muito esperado terceiro álbum e apresentaram-no de forma irrepreensível. Um alinhamento equilibrado, que juntou oito excitantes novos temas a nove canções clássicas, serviu para matar saudades dos triunfais anos 90 e para experienciar a nova sonoridade do projecto de Geoff Barrow, Beth Gibbons e Adrian Utley. Acompanhada em palco por novos elementos, a banda provou estar viva e de muito boa saúde.
O concerto arranca com os dois primeiros temas de ‘Third‘, o novo álbum. ‘Silence’ irrompe da ausência de som com bateria cavalgante e deixa lentamente que a voz sofrida de Beth Gibbons se faça ouvir pela primeira vez. O público reage e não contesta, assistindo hipnotizado ao início de uma noite histórica. A paragem abrupta e a passagem para o ritmo cardíaco que assombra a esquizofrénica ‘Hunter’ é bem recebida, mas só ao terceiro tema se ouve a primeira ovação da noite.
‘Mysterons’ é repescado ao velhinho ‘Dummy’ e veste-se de azul e roxo para se mostrar tão imaculado quanto há 14 anos atrás. ‘The Rip’, mais uma nova canção, abranda o ritmo e oferece um belíssimo diálogo entre a voz periclitante de Gibbons e a guitarra acústica. É aqui que se percebe bem que a genialidade do trio britânico continua intacta e envolta na mesma aura de secretismo de sempre.
A viagem ao passado é retomada com ‘Glory Box’, que aparece entre fumos e luzes quentes. O público responde em coro com as vozes bem apontadas para uma Beth Gibbons forte de tão frágil. Os ritmos ácidos de ‘Numb’, single com que os Portishead se apresentaram ao mundo, deixam o coliseu em hipnose sedutoramente dançada.
De volta ao presente, ‘Magic Doors’ mostra a força que a bateria ganhou na nova sonoridade da banda. Os lamentos encantatórios de Gibbons rebentam em teclas com efeitos de tempestade e a rendição é agora total. O momento alto do concerto estava no entanto a chegar.
‘Wandering Star’ é oferecida em ambiente soturno e despido, com uma solenidade e tensão que não se adivinham no original de estúdio. O público respeita ordeiramente o momento.
O registo alarmante do excelente novo single, ‘Machine Gun’, acorda tudo e todos de um transe que momentos antes se tinha imposto. A percussão gigante permite que a voz vá irrompendo por entre batidas. Aplausos em catadupa.
Segue-se a sequência mais excitante da noite. A acústica da sala lisboeta, particularmente feliz, permite absorver da melhor forma a solenidade de ‘Over’, a grandeza de ‘Sour Times’ (agora menos densa ao vivo que no passado) e as ambiências cinematográficas de ‘Only You’.
’Nylon Smile’ prova mais uma vez a eficiência das novas canções e a despedida antes do encore faz-se ao som de ‘Cowboys’, cujo poder cresceu com o tempo de repouso. Antes de sair de palco, Beth Gibbons agradece e o público começa de imediato a pedir mais.
E eis a banda de novo em palco. ‘Threads’ vai rastejando de mansinho até a cantora soltar todo o poder da sua voz num excelente exercício vocal. A transfiguração explosiva de uma figura que parece sempre ir despedaçar-se em mil pedaços arranca gritos exultantes de uma audiência ao rubro.
’Roads’ era o momento que faltava ir repescar ao passado. Afirma-se hoje ainda como uma das canções mais belas de sempre e o público aproveita-a na ponta da língua. Seria momento de terminar, mas a banda acaba por surpreender de forma festiva com uma versão bem gingante de ‘We Carry On’.
Depois de terminada a sua função, Beth Gibbons desce ao fosso para cumprimentar o público, abandonando uma verdadeira orgia sonora em palco.
Avaliando por uma noite cravejada de bons momentos, os Portishead do século XXI prometem ser tão válidos em palco quanto aqueles que abandonaram a ribalta há dez anos atrás. O concerto do Sudoeste será sempre uma memória feliz, mas a noite de hoje tem já também lugar assegurado no baú de recordações.”
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PORTISHEAD NO COLISEU DE LISBOA
“Os Portishead estão de volta com um novo e muito esperado terceiro álbum e apresentaram-no de forma irrepreensível. Um alinhamento equilibrado, que juntou oito excitantes novos temas a nove canções clássicas, serviu para matar saudades dos triunfais anos 90 e para experienciar a nova sonoridade do projecto de Geoff Barrow, Beth Gibbons e Adrian Utley. Acompanhada em palco por novos elementos, a banda provou estar viva e de muito boa saúde.
O concerto arranca com os dois primeiros temas de ‘Third‘, o novo álbum. ‘Silence’ irrompe da ausência de som com bateria cavalgante e deixa lentamente que a voz sofrida de Beth Gibbons se faça ouvir pela primeira vez. O público reage e não contesta, assistindo hipnotizado ao início de uma noite histórica. A paragem abrupta e a passagem para o ritmo cardíaco que assombra a esquizofrénica ‘Hunter’ é bem recebida, mas só ao terceiro tema se ouve a primeira ovação da noite.
‘Mysterons’ é repescado ao velhinho ‘Dummy’ e veste-se de azul e roxo para se mostrar tão imaculado quanto há 14 anos atrás.
‘The Rip’, mais uma nova canção, abranda o ritmo e oferece um belíssimo diálogo entre a voz periclitante de Gibbons e a guitarra acústica. É aqui que se percebe bem que a genialidade do trio britânico continua intacta e envolta na mesma aura de secretismo de sempre.
A viagem ao passado é retomada com ‘Glory Box’, que aparece entre fumos e luzes quentes. O público responde em coro com as vozes bem apontadas para uma Beth Gibbons forte de tão frágil. Os ritmos ácidos de ‘Numb’, single com que os Portishead se apresentaram ao mundo, deixam o coliseu em hipnose sedutoramente dançada.
De volta ao presente, ‘Magic Doors’ mostra a força que a bateria ganhou na nova sonoridade da banda. Os lamentos encantatórios de Gibbons rebentam em teclas com efeitos de tempestade e a rendição é agora total. O momento alto do concerto estava no entanto a chegar.
‘Wandering Star’ é oferecida em ambiente soturno e despido, com uma solenidade e tensão que não se adivinham no original de estúdio. O público respeita ordeiramente o momento.
O registo alarmante do excelente novo single, ‘Machine Gun’, acorda tudo e todos de um transe que momentos antes se tinha imposto. A percussão gigante permite que a voz vá irrompendo por entre batidas. Aplausos em catadupa.
Segue-se a sequência mais excitante da noite. A acústica da sala lisboeta, particularmente feliz, permite absorver da melhor forma a solenidade de ‘Over’, a grandeza de ‘Sour Times’ (agora menos densa ao vivo que no passado) e as ambiências cinematográficas de ‘Only You’.
’Nylon Smile’ prova mais uma vez a eficiência das novas canções e a despedida antes do encore faz-se ao som de ‘Cowboys’, cujo poder cresceu com o tempo de repouso. Antes de sair de palco, Beth Gibbons agradece e o público começa de imediato a pedir mais.
E eis a banda de novo em palco. ‘Threads’ vai rastejando de mansinho até a cantora soltar todo o poder da sua voz num excelente exercício vocal. A transfiguração explosiva de uma figura que parece sempre ir despedaçar-se em mil pedaços arranca gritos exultantes de uma audiência ao rubro.
’Roads’ era o momento que faltava ir repescar ao passado. Afirma-se hoje ainda como uma das canções mais belas de sempre e o público aproveita-a na ponta da língua. Seria momento de terminar, mas a banda acaba por surpreender de forma festiva com uma versão bem gingante de ‘We Carry On’.
Depois de terminada a sua função, Beth Gibbons desce ao fosso para cumprimentar o público, abandonando uma verdadeira orgia sonora em palco.
Avaliando por uma noite cravejada de bons momentos, os Portishead do século XXI prometem ser tão válidos em palco quanto aqueles que abandonaram a ribalta há dez anos atrás. O concerto do Sudoeste será sempre uma memória feliz, mas a noite de hoje tem já também lugar assegurado no baú de recordações.”
in ‘Blitz’
‘MACHINE GUN’
Portishead
www.youtube.com/watch?v=Lsuz4ki31zA
CR
Obrigada, CR!:))
Estive no coliseu do Porto..Grande noite.Fantástica.
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